Giges era um pastor a serviço do rei que governava naquele tempo, o reino da Lídia. Houve certo dia, uma grande tempestade seguida de um terremoto, o solo se partiu e uma gigantesca abertura tinha se formado no lugar onde ele apascentava seu rebanho. Admirado com o que via, desceu pela abertura, e conta-se que, entre outras maravilhas, viu um cavalo de bronze, oco, com portinholas e, tendo passado a cabeça através de uma delas, viu um homem que estava morto, segundo toda a aparência, e cuja estatura ultrapassava a estatura humana. Esse morto estava nu; tinha somente um anel de ouro na mão.
Giges o pegou e saiu. Ora, tendo-se reunido os pastores como de costume para fazer ao rei o seu relatório mensal sobre o estado dos rebanhos, Giges veio à assembleia, trazendo no dedo o seu anel. Tendo tomado o lugar entre os pastores, girou, por acaso, o anel de tal modo que a pedra ficou do lado de dentro de sua mão e, imediatamente, ele se tornou invisível para os seus vizinhos, e falava- se dele como se tivesse partido, o que o encheu de espanto. Girando de novo o seu anel, virou a pedra para fora e imediatamente tornou a ficar visível. Atônito com o efeito, ele repetiu a experiência para ver se o anel realmente tinha esse poder, e constatou que, virando a pedra para dentro, tornava-se invisível; para fora, visível. Tendo essa certeza, fez-se incluir entre os pastores que seriam enviados até o rei como representantes. Foi ao palácio, sequestrou a rainha e atacou e matou o rei; em seguida, apoderando-se do trono.
Essa lenda, descrita na obra “A República” de Platão, filósofo este que viveu na Grécia entre os anos 427 a 348 antes de Cristo, mostra-nos que já naquela época levantava-se uma indagação moral: será que algum homem seria capaz de resistir à tentação do mal se soubesse que seus atos não seriam testemunhados? Ou será que somos honestos apenas porque temos medo de sermos apanhados?
Comentários
Postar um comentário